sábado, 3 de agosto de 2013

Não me venha com essa de boa genética


Ivete Sangalo, classe 1.972, não para de malhar. (Foto: Reprodução)

"Como você consegue estar em forma com 40 anos? Você tem a genética boa"

Uma conhecida me disse isso outro dia. No início pensei em responder, depois conclui que a explicação seria muito longa e talvez ela nem quisesse saber realmente, que a sua pergunta era somente uma frase dessas que dizemos para socializar de vez em quando.
Puxei-a para perto e disse:
- Olha aquela mulher ali. Sussurrei, apontando discretamente para uma mulher gorda, flácida, com os cabelos terríveis.
Continuei:
-Essa ali sou eu.
Ela sorriu. Repeti:
- Essa sou eu, se não fizesse uma guerra comigo mesma todos os dias, desde quando acordo até o momento de dormir.
Assim, deixei-a pensando e saí.

A verdade é exatamente esta, 99,9% das mulheres que podemos dizer que são "em forma" ou mesmo, classificar como "normais", se esforçam muito para serem assim. Não existem pessoas abençoadas que se abandonam e ao mesmo tempo sejam lindas.

Com 40 então, os cuidados tem que passar a ser uma religião.

Acordamos como soldados durante a guerra, já em alerta.
Antes mesmo de pensarmos em levantar da cama, já fazemos uns abdominais e confirmamos mentalmente nosso propósito de recusar toda e qualquer guloseima que nos seja oferecida ou desejada durante o dia.

Fazemos malabarismos para encaixarmos nos nossos horários aquela horinha básica de ginástica, caminhada e quem sabe, espremendo bem o tempo e pulando alguns deveres, conseguimos ainda nos dedicar a Yoga (para que nosso corpo não assemelhe ao de uma vovó), e enforcando a hora do almoço, suamos com uma supersérie de glúteos.

Quando cozinhamos para a família, mesmo que tenha ficado ótimo (e sempre fica, aliás, tudo parece divino às nossas papilas submetidas a constante ditadura dietética), resistimos e não comemos. Corremos preparar nossa saladona obrigatória, porque essa é a nossa alimentação (além dos shakes proteicos, cápsulas disso e daquilo, chás anti radicais livres).

Como a boa genética é uma idéia utópica, também não compramos aquele sapato lindo que "precisamos muito", não fazemos as viagens que sonhamos nem jantamos fora frequentemente. Economizamos até o que não temos para comprar suplementos, como colágeno, whey protein e outras poções mágicas que certamente nos colocariam na fogueira se vivêssemos na idade média. Mas isso é só um detalhe, comparado com o que temos que gastar com dermatologista e personal trainer.
Sair à noite? Nem pensar, deixamos isso só para reveillon e olhe lá, porque como a carroça da Cinderela se transforma em abóbora, também nosso rosto fica igual ao da bruxa má se não dormimos todas as horas necessárias durante a noite.

Depois de todos esses sacrifícios, é realmente detestável que aquela pessoa sem noção, venha atribuir o resultado dos nossos esforços aos genes, liberando-a assim da responsabilidade de ter que mudar.
Como somos é o resultado de nós mesmas.

Enfim, não me venham falar em genética!


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